O ouriço
para Carlito Azevedo
Um poeta me conta que certa vez,
em Berlim, caminhando na companhia
de uma amiga alemã,
encontrou num parque
um ouriço ferido.
A amiga rapidamente telefonou
para uma instituição de proteção animal
que recomendou que chamassem
um táxi e enviassem o ouriço
para a sede da entidade.
Para não se ferirem ao pegá-lo –
uma nuvem de espinhos que cabe
na palma da mão – tiveram
que embrulhá-lo num suéter.
Sempre penso – diz o poeta –
nesse ouriço
atravessando a cidade
sozinho dentro de um táxi
armado com seus espinhos
envolto em meu velho suéter azul claro
subvencionado pela maior economia europeia
e ainda assim infinitamente
desprotegido.
Der Igel
für Carlito Azevedo
Ein Dichter erzählt mir, wie er einmal
beim Spazierengehen in Berlin
mit einer deutschen Freundin
in einem Park
einen verletzten Igel fand.
Die Freundin rief schnell
eine Tierschutzorganisation an
wo man ihr sagte, sie solle am besten
ein Taxi rufen und den Igel
zum Sitz des Vereins schicken.
Um sich an dem Tier nicht zu verletzen –
eine Wolke aus Stacheln
nicht größer als eine Handfläche –
wickelten sie es in einen Pullover.
Ich muss oft – sagt der Dichter –
an diesen Igel denken
unterwegs durch die Stadt
ganz allein in dem Taxi
bewaffnet mit all seinen Stacheln
in meinem alten hellblauen Pullover
unterstützt von der größten Wirtschaftsnation Europas
und trotzdem so unendlich
schutzlos.