Fim de verão
I
Luz de final de tarde de um verão
que não quer acabar, como uma vida
a alongar-se além de toda razão
de viver, como rua, ou avenida,
que ultrapassa os limites da cidade
e vai seguindo, em meio a ferros-velhos
e terrenos baldios que o mato invade
e ninguém liga, ou como dois espelhos
emparelhados, refletindo mil
imagens sempre iguais, uma menor
que a anterior, de um espelho vazio –
final de tarde, uma agonia lenta
depois de mais um dia de calor
deste verão que já ninguém aguenta.
Sommerende
I
Das Licht am frühen Abend eines Sommers,
der nicht enden will, so wie ein Leben,
das über jeden Lebensgrund hinaus
sich weiterspinnt, wie eine Straße eben,
die den Stadtrand einfach überschreitet
und weiterführt, mitten durch Abfallberge
und leeren Grund, wo Wildnis sich ausbreitet,
und keinen stört‘s, oder wie zwei Spiegel
voreinander, worin sich tausend immer
gleiche Bilder eines leeren Spiegels
spiegeln, eines kleiner als das vorige –
früher Abend, träger Niedergang,
nach einem weiteren noch heißen Tag
des Sommers, den keiner mehr ertragen kann.
AUS: FIM DE VERÃO (São Paulo, Companhia das Letras, 2022)