XIII
Era o momento? Era. Foi. A hora
exata só se sabe quando já
passou. O tempo nunca se demora
demais. E tudo que acontece está
certo a priori, por definição.
O destino se escreve a posteriori.
A realidade sempre tem razão,
Atroz que seja, por mais que piore.
Já o que se esquece deixa de ter sido.
É como uma borracha vindo atrás
do lápis, conservando uma distância
respeitosa, sempre com a mesma ânsia
de apagar. Tinta ou lápis. Tanto faz.
Escreve. Isto também será esquecido.
XIII
War das der Augenblick? Aus und vorbei.
Die genaue Zeit sich erst erschließt,
wenn sie bereits vergangen. Sie verweilt
nicht lang, die Zeit. Und alles, was geschieht,
ist a priori offenkundig richtig.
Das Schicksal wird im Nachhinein geschrieben.
Die Wirklichkeit hat immer Recht,
egal, wie schrecklich sie mag eskalieren.
Doch was man vergisst, das ist nicht mehr.
Es ist wie ein Radiergummi, wenn er
dem Bleistift folgt und dabei ehrerbietig
Abstand hält, beständig gleich begierig
auszulöschen. Tinte, Bleistift, ganz egal.
Schreib. Vergessen wird auch das einmal.
AUS: FIM DE VERÃO (São Paulo, Companhia das Letras, 2022)