Um jardim para Ingeborg
Deste lado
da cerca do jardim
estamos.
Do outro lado
o mundo.
Dias inteiros
bateram contra a cerca
e vemos agora seus pedaços
entre os cogumelos podres
no chão.
Pássaros voltam do inverno
o tempo é de recomeço
e o jardim sobreviveu
ao moinho das estações.
Também nós
nos reerguemos
sobre as cinzas e as bombas e os cadáveres.
Nenhum jardim
é inocente.
Não se misturam
as coisas e as palavras
intraduzíveis umas pelas outras:
39 •de nada vale colocar um seixo no lugar de um
nome
que falta
ou adornar um verso
com uma flor de laranja.
O gelo que um dia destruiu o jardim
deixou intacto este poema.
Silenciosos
estranhos
andamos ladeando
a cerca
sentindo sobre os ombros
o peso novo do verão.
Usamos palavras antigas
pedra folha e noite.
Só nelas ainda
confiamos.
De: O livro dos jardins
Ein Garten für Ingeborg
Auf dieser Seite
des Gartenzauns
sind wir.
Auf der anderen Seite
die Welt.
Ganze Tage
sind gegen den Zaun geprallt
und nun sehen wir ihre Trümmer
zwischen vermodernden Pilzen
am Boden.
Vögel kommen zurück aus dem Winter
die Zeit steht auf Wiederanfang
und der Garten hat ihn überstanden
den Wirbel der Jahreszeiten.
Wir auch,
stehen auf
aus der Asche, den Bomben, den Leichen.
Kein Garten
ist unschuldig.
Man mischt
Worte mit Dingen nicht
wenn sie gegenseitig nicht übersetzbar sind:
es nützt nichts, einen Kiesel dorthin zu legen, wo
ein Name fehlt
oder einen Vers auszuschmücken
mit einer Orangenblüte.
Das Eis, das einmal den Garten zerstörte
hat dieses Gedicht unbehelligt gelassen.
Schweigend
fremd
gehen wir
den Zaun entlang
spüren auf unseren Schultern
das neue Gewicht des Sommers.
Bedienen uns alter Worte
Stein, Blatt oder Nacht.
Nur ihnen
vertrauen wir noch.