Fuente de la lengua

exercício para Anne Sexton (traslado)

[um poema decalque de vários de
Anne Sexton, essa no barco no terrível
remar rumo a Deus, filha de
Mary Gray, do continente à ilha]

oh, Maria, austera Mãe
teu beijo tem gosto de madeira
pois que correste tua língua
por todas as dobras da cruz
e descobriste que o vinagre
cala os rosnados daquelas
que na raiva se enclausuram
e tu me deste de beber
do balsâmico, o escuro ácido
no gesto de tuas mãos duras
tu me deste de beber
em um toque desvelado
para cessar meus tremores
com teu olhar eterno
tu me deste de beber
para que me retorcesse
junto aos teus pés
apartando-me do mundo
ao êxtase devocional
das mulheres que se devoram
pelo querer de ser inteira
tu me deste de beber
entre as obras e as orações
e o longo gotejar das coxas
tu me deste de beber
para aprender a interpretar
as escrituras das veias que pulsam

 

vivo sola
y separada gimo
comiendo huesos o
lo que brota de la tierra
el puesto es mío y nadie viene
por las mañanas, reposo acá
por las noches, acá trabajo
mi deuda no se rematará
hasta el resto mío
todo que adoro


debes ser quien llama
el mal por la noche
diciendo palabras de gracia
mientras el hechizo
deja sus deleites


fareje meu desejo
se lo hierve como el fuego


oh, Maria, imperiosa Mãe
entre a noite e o dia tudo é sombra
e o vinagre que tu me deste
incendeia minha garganta com os nomes
das bestas cujos sonhos eu conheço
e que me esperam a pronúncia do desejo
mas o que tu me deste de beber


também delineia o contorno das janelas
através das quais observamos
o patético rastejar de meu corpo
por obsessivos acertos de contas


trabajo sola para salvar mi alma
si el ayer duele, mañana será peor
me escriba una señal, pues mi cuerpo se alinea
lista para agotar todos mis miembros y haz
mis poros están abiertos y sangran por su poción
mentiras y hechizaría


fareje meu desejo
se lo hierve como el fuego


oh, Maria, gentil Mãe
reconstruí o terço a cada gole
que tu me deste nesta vida
aos meus lábios em tua boca
aqui riem as cabras e bodes
enquanto estancas o lanho
do profundo corte que abro
peço outro vidro de vinagre
rogando à faca de lâmina fosca
para que se retalhe meu orgulho
sob teu consolo de reparação
mortifiquem-se meus dedos


que se entrelaçam acusatórios
que se expandam meus olhos
da compressão dos rosnados
que se reconfigure meu riso
à lembrança do teu afeto
que se abra meu peito
à tua graça devotada
por amor entre mulheres


Baba Yaga dientes de hierro
yo he sido de la calaña suya


               --- Anne Sexton (“For the year of the Insane”; “Is it True?”; “Her Kind”;
                   “Jesus, the actor, plays the Holy Ghost”) e Austra (“Spellwork”).

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